O Brasil continua a tiranizar seus empreendedores e enaltecer o Estado, além do funcionalismo público ser a carreira mais procurada entre a maioria dos jovens. Isso pode dar certo?
É notório que o brasileiro de forma geral não consegue entender pela lógica como as coisas realmente funcionam e, o empresário – seja ele micro ou mega – se tornou um grande vilão, um cara que única e exclusivamente enxerga a si próprio, a razão de todo o mal do tal capitalismo opressor. Não é exclusividade do Brasil esse pensamento, mas aqui as pessoas enxergam ainda mais que o Estado é o grande provedor e acostumam-se a depender dele, como se de fato existissem serviços públicos gratuitos e, pior, de qualidade. Uma vez público, significa que os pagadores de impostos é que estão financiando e, a julgar pela falta de comprometimento que qualquer um costuma ter com algo que não é seu, o Estado fatalmente usa o dinheiro das pessoas de forma irresponsável e sem o comprometimento de entregar algo bom.
Pior do que achar que o Estado deve sempre centralizar as decisões, é acreditar na tirania de todos os empresários e não entender o valioso papel que estes detêm na economia, principalmente uma que deseja ser desenvolvida. É obvio que sempre vai existir o empresário mercenário e ambicioso além da conta, da mesma forma que sempre vai existir o funcionário preguiçoso e relaxado. Há sempre pontos fora da curva. Entretanto, o ponto importante dessa discussão é saber que a classe de empresários que é formada por pessoas desde o dono de um pequeno restaurante de bairro até o dono de um conglomerado de empresas, é responsável pela geração direta e indireta de empregos e podem efetivamente fazer crescer uma economia, que no fim das contas será positivo para toda a sociedade. Ou será que devíamos viver de funcionalismo público? O que ele produz?
Quando abri a consultoria, a maioria das pessoas que me encontrou dizia que aquilo era uma loucura. Que havia aberto mão de salário, benefícios e direitos trabalhistas para não ter chefe, o que representava não ter segurança nenhuma. Foram 6 meses sem ganhar um Real sequer, me sustentando com o dinheiro que havia juntado e com uma pilha de contas para pagar. Não foi fácil me acostumar com a ideia de que meu salário não cairia no fim do mês ou que meu plano de saúde estava garantido, mas a possibilidade de trabalhar com o que gosto me fez insistir. Hoje, 2 anos e 4 meses depois, além da consultoria de investimentos, abri o leque para diversos outros negócios, expandi meu networking e falo com propriedade que a melhor coisa que podia ter feito foi me arriscar. E quem tem coragem de se arriscar hoje em dia? Para muitos que resolveram me aconselhar há 2 anos, eu devia ter estudado para um concurso.
Por favor, não me levem a mal, mas um país que exalta o funcionalismo público e rechaça seus empreendedores, não pode mesmo dar certo. Não é o Estado que produz algo, ou garante crescimento da economia, mas seus setores produtivos, criativos, inovadores e eficazes. É claro que isso não vale para todos os casos e há importantes serviços prestados por funcionários públicos, mas tenha certeza que para sermos desenvolvidos nossas crianças deviam sonhar em ter suas próprias empresas, dirigindo seus sonhos para ideias incríveis, não metidas num emprego apenas por conveniência. Sair da zona de conforto é uma expressão clichê, mas totalmente verdadeira.
Muitos profissionais brilhantes deixam de empreender e criar pela junção do conforto e estabilidade com a dificuldade de ter e manter uma empresa. Não basta o Estado ser ineficiente nos serviços que se presta a fazer, ele ainda dificulta a tarefa de abrir um negócio, por mais simples que seja. De acordo com dados do Banco Mundial, a média de tempo para se abrir uma empresa no Brasil é de 107 dias, que nos dá a 123ª posição num ranking entre 189 países. Os cinco primeiros países com a menor burocracia para abrir uma empresa são Nova Zelândia, Canadá, Cingapura, Austrália e Hong Kong. Não por acaso esses países são os mesmos a figurar no topo do ranking de liberdade econômica medido pela Heritage Foundation, assim como no de IDH. Mas essa é uma outra história para contar em outra matéria. O ponto é que além de ser complicado abrir uma empresa no Brasil, o Estado não alivia em nada na questão tributária, nem nos contratos de trabalho, utilizando uma antiga legislação datada de 1943 sancionada por Getúlio Vargas durante o período do Estado Novo.
É também de se espantar que em pleno 2016 onde temos facilidade para pesquisar e procurar informações, ainda exista uma enorme quantidade de pessoas que prefere repetir bordões à exaustão sem se dar ao trabalho de entender se faz sentido. Seria o mínimo, não? Mas não funciona assim. Você já deve ter visto por aí a famosa frase de Marx “se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence”, não é mesmo? Quase todos os dias alguém utiliza essa frase para comentar em meus textos e confesso que hoje em dia até desisti de argumentar. Como ainda podem pensar tão pequeno?
O empresário brasileiro é o herói – sim, herói, que demora mais de 100 dias para abrir sua empresa, assina um caminhão de papéis, paga taxas que não trazem benefício ou utilidade alguma, paga altos impostos, contrata funcionários com um mundo de encargos e ainda paga os custos fixos para manter o negócio funcionando, como água, luz, telefone, gás e aluguel. Além disso, dependendo do negócio, precisa comprar insumos, matérias primas ou mercadorias para serem revendidas, gasta com divulgação, com uniformes, máquinas e aparelhos. E sabe o que ninguém lembra? Existe o risco de dar errado e ir tudo por água abaixo. Será que algum empregado vai querer dividir o prejuízo também? Isso é só para mostrar que para valer a pena todo esse risco, é preciso haver uma recompensa. E como ela se chama? LUCRO.
Aqui no Brasil o lucro se tornou vilão assim como o empresário. Esqueceram-se de todo o risco por trás do negócio que pode fazer com que o capital empreendido seja perdido e as pessoas empregadas deixem de ter emprego. E por que? Ora, porque ter lucro é feio, companheiro. É coisa de gente manipuladora, mesquinha e egoísta. Pois imagine só: Se o empresário preferir, em vez de abrir um negócio e arriscar seu dinheiro em algo que pode dar errado, ele pode aplicar no mercado financeiro. Atualmente, a taxa de juros básica é de 14,25% ao ano, o que faz um capital de R$1 milhão render R$142.500 por ano, ou R$11.875,00 por mês. Que tal? Em vez de ter dor de cabeça, problemas com funcionários, preocupação com estoque, aluguel e todo o resto, o tal capitalista pode viver tranquilamente sem fazer nada que irá ganhar uma boa grana, mesmo depois de pagar o imposto de renda. Sem o investimento produtivo, não há geração de empregos, não há crescimento do país, só um grupo privilegiado de pessoas com dinheiro ganhando sem fazer nada. Não é a hora de incentivar nossos empreendedores?
Nosso país não é carente de pessoas capazes, dispostas e inteligentes, mas nos falta apreço pelo que realmente importa, entender a dinâmica da economia, as implicações de cada atitude e ter um objetivo mais ousado do que simplesmente viver para sobreviver. Nossos adolescentes saem despreparados das escolas e se tornam mini revolucionários contra o sistema, sem ao menos entender os conceitos básicos de juros, inflação e matemática financeira. Entendem que seu papel no mundo é apenas sugar o dinheiro público com o nome de “redistribuição de renda”, mesmo que isso seja tão e somente a manutenção de seu status de pobreza. Onde estão os jovens criativos, audaciosos e perspicazes? Infelizmente, muitos deles deixaram de lado essas qualidades e hoje andam pelas faculdades ostentando camisetas do Che Guevara, proferindo palavras de ordem sem sentido, lutando contra o inimigo errado.
Matamos nossos empreendedores em seus ninhos e deixamos o Brasil doente de ideais sem razão, incoerência e mediocridade. Será que seremos capazes de mudar?