sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Excelência acadêmica requer custeio público

* Fernanda de Negri, Marcelo Knobel e Carlos Henrique de Brito Cruz

A crise fiscal dos Estados e da União e de várias universidades importantes tem suscitado um debate sobre modelos de financiamento da universidade e da pesquisa científica no País. O debate é bem-vindo, assim como a proposição de alternativas que possam impulsionar a formação de pessoas e a produção de conhecimento no Brasil.

Várias universidades de ponta pelo mundo, públicas ou privadas, têm fontes de receitas mais diversificadas (doações, fundos patrimoniais e mensalidades, entre outras) do que as universidades públicas brasileiras. Mesmo assim, quem mais paga pelos custos das grandes universidades do mundo, sejam elas públicas ou privadas, continua sendo o Estado.

Endowments são fundos patrimoniais, em geral provenientes de doações, comuns nas universidades norte-americanas. As receitas de tais fundos usualmente cobrem algo como 5% das despesas anuais. As mensalidades, por sua vez, também não são, por si sós, a solução, pelo menos não para universidades de pesquisa. No Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, elas equivalem a cerca de 10% das receitas.

O mesmo vale para recursos de pesquisa oriundos de empresas, que no MIT são cerca de 5% da receita anual. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) têm ficado próximos de 3% nos últimos anos. Nenhuma diferença abissal aqui.

As melhores universidades do mundo, além do ensino, produzem pesquisa de alta qualidade e impacto, com benefícios sociais e econômicos acima de seus custos. Por isso o Estado é um dos seus principais financiadores. No MIT, os contratos de pesquisa e subvenções do governo norte-americano são a principal fonte de receitas da instituição: 67% do total para pesquisa no quinquênio 2011-2015. Em Oxford, cerca de 50% das receitas vêm do governo. Na Alemanha, onde as universidades são, em sua maioria, públicas, esse porcentual é ainda maior. Na Universidade Tecnológica de Munique, por exemplo, mais de 60% das receitas correntes são provenientes do governo.

Quando se fala no financiamento da pesquisa, o papel do Estado é ainda maior. Na Inglaterra, estima-se que 66% dos recursos de pesquisa das universidades sejam provenientes diretamente do governo inglês e outros 11%, indiretamente, venham da União Europeia.

No Brasil, as fontes de receitas não são tão diversificadas como em outros países. E também é verdade que nossas melhores instituições custam relativamente pouco ao Estado brasileiro. Uma comparação entre a Unicamp e o MIT, duas universidades de excelência em seus países e com grande vocação para a produção de tecnologia, evidencia esse fato. A Unicamp tem, somando repasses do governo do Estado e receitas extraorçamentárias, uma receita anual, em paridade do poder de compra, de cerca de US$ 1,1 bilhão, menos da metade da do MIT.

Acontece que o MIT possui 4.500 estudantes de graduação e 6.800 de pós-graduação, enquanto a Unicamp tem 19 mil alunos de graduação e 16.600 estudantes de pós-graduação. A Unesp tem 35000 alunos de graduação e 11000 de Pós-graduação. O número de professores na Unicamp, por sua vez, é praticamente igual, pouco menos de 1.900 docentes nas duas instituições, e o número de funcionários técnico-administrativos é um pouco superior no MIT. A Unicamp tem mais que o triplo dos estudantes, com metade do orçamento e o mesmo número de funcionários e professores, sendo um dos mais importantes centros de pesquisa no País. A Unesp tem 3500 docentes (relação próxima de 1 docente para 10 alunos) a relação da Unicamp é próxima a da Unesp e no MIT é de 1 docente para cada 2 alunos. (dados da Unesp foram inseridos no texto original).

O volume de recursos que o MIT recebe a mais do que a Unicamp é, provavelmente, o que faz a instituição norte-americana ser uma das melhores universidades do mundo. Esses recursos são investidos em novos centros de pesquisa, laboratórios e equipamentos e na contratação temporária de pesquisadores. Os pesquisadores estagiários de pós-doutorado no MIT são mais de 5 mil, enquanto na Unicamp são apenas 270. Esses profissionais são definitivos para fazer a máquina de pesquisa do MIT funcionar tão bem. Ainda assim, a Unicamp é a universidade brasileira com o maior número de patentes solicitadas ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Pesquisa científica é essencial não apenas para estimular a inovação e o crescimento econômico, mas também para resolver questões críticas do nosso desenvolvimento. Novas vacinas e novos tratamentos para doenças que afetam a população brasileira, tecnologias capazes de ampliar a produtividade agrícola e industrial, conhecimento capaz de mitigar os efeitos do aquecimento global sobre a nossa produção agropecuária são alguns dos exemplos. E é o Estado o grande financiador da ciência no mundo todo. Já a inovação exige investimentos empresariais.

As boas universidades no Brasil estão cada vez mais abertas às demandas da sociedade, incluídas aí as empresas. Precisam, além disso, buscar alternativas de financiamento e demonstrar transparência e visibilidade sobre os custos e resultados. Também precisam estar atentas às necessidades de uma das sociedades mais desiguais do mundo. Afinal, é o conjunto da sociedade que define, e assim deve ser numa democracia, os recursos que serão alocados para o ensino superior e a pesquisa científica.

As boas universidades no Brasil precisam e podem mostrar à sociedade que custam pouco, considerando sua qualidade e seus resultados. Precisam modernizar a gestão do orçamento, criando mecanismos internos de controle que permitam que as decisões sejam compartilhadas, transparentes e consistentes com nossa realidade econômica, demonstrando à sociedade os custos e impactos. E o Brasil precisa definir quantas boas universidades intensivas em pesquisa e ensino consegue manter em condições competitivas internacionalmente, considerando que caro mesmo para um país é não saber criar conhecimento.

* RESPECTIVAMENTE, TÉCNICA DO INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA), REITOR DA UNICAMP E DIRETOR CIENTÍFICO DA FAPESP

Originalmente publicado em 5 de janeiro de 2018, O Estado de S. Paulo, página 2, Espaço Aberto

Eqseed

Novas modalidades de capital de risco estão surgindo no Brasil. Um bom exemplo é a Eqseed que gerencia porfolio de investimentos e permite que pequenos investidores acessem empresas de tecnologia.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

InSysPo - 6 e 7 de junho na Unicamp

INTERNATIONAL SYMPOSIUM - Innovation Ecosystems, Upgrading, and Regional Development - (UNICAMP) - June 6-7, 2018

Premilinary program - soon more information

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

As universidades mais inovadoras do mundo em 2017

O texto obviamente tem problemas, quem inova afinal são as empresas, mas esquecido isso os rankings são importantes para entender o que estas instituições fazem de tão especial e o que estamos deixando de fazer.
Texto publicado originalmente em: http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2017/11/universidades-mais-inovadoras-do-mundo-em-2017.html
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O top 100, por sua vez, é composto de 51 universidades com sede na América do Norte, 26 na Europa, 20 na Ásia e 3 no Oriente Médio. O Brasil não tem nenhum representante na lista. Confira as 30 primeiras colocadas:

1. Stanford University
2. Massachusetts Institute of Technology (MIT)
3. Harvard University
4. University of Pennsylvania
5. KU Leuven
6. KAIST
7. University of Washington
8. University of Michigan System
9. University of Texas System
10. Vanderbilt University
11. Duke University
12. University of California System
13. Northwestern University
14. Pohang University of Science & Technology (POSTECH)
15. Imperial College London
16. Cornell University
17. California Institute of Technology
18. University of Wisconsin System
19. Federal Polytechnic School of Lausanne
20. University of Southern California
21. University of Tokyo
22. Johns Hopkins University
23. Georgia Institute of Technology
24. Seoul National University
25. University of Illinois System
26. University of Cambridge
27. Indiana University System
28. Pierre & Marie Curie University - Paris 6
29. University of Colorado System
30. University of Pittsburgh